Em um dia chuvoso em setembro, os irmãos Josh e Jordan Gackle, proprietários de uma tradicional fazenda de soja em Dakota do Norte, se reuniram para discutir uma crise que pode devastar suas finanças. Pela primeira vez em 76 anos de operação, sua maior fonte de receita — a China — decidiu interromper todas as compras de soja. A previsão é alarmante: a fazenda pode perder até US$ 400 mil em 2025, enquanto os silos estão se transformando em tumbas de soja que não será mais exportada.
O impacto dessa decisão é catastrófico. A China, que anteriormente comprava mais de 70% da soja de Dakota do Norte, agora se recusa a retornar às negociações. Desde a imposição de tarifas por parte do governo dos Estados Unidos, a soja americana tornou-se menos competitiva. Os agricultores enfrentam perdas insuportáveis, com muitos temendo a falência e até a execução hipotecária de suas propriedades.
A pressão sobre os agricultores não é apenas financeira; os altos custos dos insumos e as taxas de juros crescentes lembram os tempos de crise agrícola da década de 1980. "O nível de estresse é muito maior agora", afirma Jordan Gackle.
Nos Estados Unidos, é comum que mais de 50% da soja cultivada seja exportada para a China. Contudo, a guerra comercial acentuada de Donald Trump criou um ambiente adverso: as tarifas sobre produtos chineses geraram retaliações severas, tornando a soja norte-americana até 34% mais cara. Com isso, a dinâmica do mercado foi drasticamente alterada, e as consequências podem ser desastrosas.
“Os custos estão disparando, enquanto o preço da commodity despenca”, alerta Josh Gackle, presidente da Associação Americana de Soja.
No primeiro mandato de Trump, promessas de grandes compras de produtos agrícolas foram feitas, mas a realidade após a pandemia mostrou que essas promessas foram facilmente esquecidas. O temor agora é de um estrangulamento financeiro que pode levar a uma crise agrícola prolongada.
Justin Sherlock, um agricultor desesperado, declara: “Estamos ficando sem tempo. Se não fecharmos um acordo nas próximas semanas, o que é um problema de um ano se tornará um pesadelo de vários anos.”
A situação só se agrava para os produtores: os bancos já estão limitando as condições de empréstimos para agricultores. Com as dificuldades de venda e as propriedades desvalorizadas, os produtores de soja correm o risco real de perder suas terras para sempre.
Bessent, secretário do Tesouro, possui terras agrícolas em Dakota do Norte e, embora afirme estar comprometido em ajudar os agricultores, sua posição cria um conflito de interesses evidente.
Sem um acordo com a China, o armazenamento se torna um desafio. Os agricultores estão se esforçando para encontrar espaço para a soja que colhem, e a incapacidade de vender seus produtos pode desencadear uma crise em toda a cadeia de abastecimento da soja nos Estados Unidos.
"Se não conseguirmos resolver a situação, não teremos outra opção senão vender nossos produtos abaixo do custo", diz Kevin Karel, um operador de silos em Dakota do Norte.
A situação atual é um alerta para todos os envolvidos no setor agrícola. Se a relação comercial com a China não for normalizada rapidamente, poderemos ver não apenas uma crise financeira para os agricultores, mas um colapso total na agricultura dos EUA.
"Esses são tempos turbulentos", resume Bill Wilson, especialista em agronegócio. O que se avizinha não é apenas uma crise local, mas sim um abalo de proporções históricas.
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